quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"A PATENTE DO CAPITÃO"

Virgulino Ferreira da Silva
Ou simplesmente Lampião
Que recebeu de “Padim Ciço”
Patente de Capitão
Quando por aqui passou
De fato sei que deixou
Sua marca no sertão

Era ele de Pernambuco
Nascido em vila Bela
Atual Serra Talhada
A história assim revela
Que então o Virgulino
Um caboclo nordestino
Um fazedor de mazela

Pela família Nogueira
E por José Saturnino
O senhor José Ferreira
Que era pai de Virgulino
Foi então assassinado
E assim o resultado
Mudou de vez seu destino

No município de Agua Branca
Em terra Alagoana
Aconteceu o assassinato
De uma forma tão insana
E sem direito á defesa
Contavam com a grandeza
De uma família de bacana

“Eu fiquei tão revoltado
Perdi do mundo a noção
Com a morte do meu pai
Que sofreu perseguição
Vi a coisa quando enguiça
Resolvi fazer justiça
Com a minha própria mão”

Não perdi tempo e tão logo
Depressa me arrumei
E aqueles inimigos
Logo eu os enfrentei
E o meu progenitor
Eu confesso pro senhor
Que sua morte vinguei


Foi no ano 17
Que este fato ocorreu
Virgulino tinha 20
Quando isso aconteceu
À Octacilio Macedo
Revelou sem dó nem medo
Quando a entrevista lhe deu

Lauro Cabral e Pedro Melo
Ao Capitão foram falar
Pediram autorização
Para lhe fotografar
Muitas chapas então fizeram
E tantos jornais quiseram
Estas fotos publicar

Na vida de Virgulino
Isso é historia verdadeira
Ele pertenceu ao bando
De Sebastião Pereira
Isso durou por 2 anos
Engatinhava nos planos
Desta vida bandoleira

No grupo de Sinhô Pereira
Por certo tempo fiquei
E por ele lhe confesso
Que eu me afeiçoei
É um leal e valente
Foram 2 anos somente
Que com ele caminhei

O que se sabe de Pereira
O ex chefe de bandoleiro
È que desistiu dos combates
E da lida de cangaceiro
E nova forma de vida
Fora da terra querida
Ninguém revela o paradeiro

Padre Cicero pediu
Também para Lampião
Abandonar o cangaço
Ele de pronto diz não
E Virgulino seguia
Acreditando que valia
A patente de Capitão



Seu irmão Antonio Ferreira
Recebeu todo contente
E ostentava seu ego
Carregar uma patente
Manobra ou ponto de vista
Daquele acordo legalista
Seria o primeiro tenente

No dia 4 de março
Do ano de 26
Seria um dia promissor
Pra Virgulino,talvez
Padre Cicero Romão
E o ainda não capitão
Se encontrariam de vez

Diz-nos então a historia
Por entre fato narrado
Isso aconteceu por que
Virgulino foi informado
Que o Padim Ciço Romão
Convidou o Lampião
Ele atendeu o chamado

Em Juazeiro do Norte
Bem longe de Fortaleza
528 quilômetros
Aconteceu tal proeza
Lampião e Romão Batista
Expunham ponto de vista
Botavam cartas na mesa

A família de Virgulino
Fora se refugiar
Em Juazeiro do Norte
Buscaram neste lugar
Depois da morte do pai
E é pra lá então que vai
Nova vida começar

E qual fora a importância
Que se deu nesse momento
Da suposta então visita
De forte acontecimento
Foi ali que lampião
Patente teria então
Se fosse do seu contento




Capitão de batalha patriótico
Para a coluna Prestes combater
Mas ele viu que essa briga
Nada tinha com ele a ver
Voltou ao Estado pernambucano
Para então seu novo plano
Começar desenvolver

Com o suposto acordo
Lampião privilegiado
Deram-lhe bom armamento
Saiu bem municiado
Combater Prestes por quê?
Se envolver nisso pra que?
Segui então outro lado

Artur da Silva Bernardes (08/08/1875 a 23/03/1955)
Presidente desta nação
Enviou tropas pra pegar
A coluna Prestes então
Que passava pelo nordeste
Tem historia este agreste
Dos tempos de Lampião

Mas voltando a Virgulino
Chegaram até cogitar
Recruta-lo como soldado
Na sociedade reintegrar
Mas a sina de cangaceiro
Falou mais alto primeiro
Deixaram a coisa acabar

De volta a Pernambuco
Passou a ser perseguido
Pela famosa volante
E o Capitão prevenido
Cortava no peito a caatinga
De cada “macaco” se vinga
Como dizia o Bandido

Bandido seria mesmo
Virgulino o Lampião?
Que pra muitos inda hoje
Fala-se naquele chão
São tantos que o admiram
E o posto não lhe tiram
De grande herói do sertão




Pedro Uchoa escreveu
Dando seu ponto de vista
Que ele deveria ser tratado
Como Oficial Legalista
Tudo isso era manobra
“espertos” tinha de sobra
Sobravam nomes na lista

Leonardo Motta autor de
No tempo de Lampião
Diz que Uchoa assinaria
Até a destituição
Do Presidente do Brasil
Era muito arredio
O tal Ministro de então

A tal Patente recebida
Preste atenção por favor
Colhi esta informação
De um outro historiador
De nada ela valia
O que Lampião recebia
Não tinha nenhum valor

O Luiz Carlos Prestes
Esse mesmo da coluna
Com seus bravos ideais
Do movimento comuna
Fez também sua historia
E no nordeste a trajetória
Fez parte desta lacuna

Quem foi que teve a idéia
De patente de Capitão
Foi o tal do Padim Ciço
Ou Benjamim Abrahão (*)
Secretário particular
Que estava a assessorar
O Padre Ciço Romão?

Fatima Menezes diz
Que o Padre era inocente
No livro Lampião e Padre Cicero
Afirma assim claramente
Seria então o Libanês (*)
Que depois um filme fez
O criador da tal patente?




Estes parênteses abertos
São pra tentar entender
E rebuscar na historia
Tudo que ela oferecer
Para que você leitor
Discuta com o Professor
Na busca do teu saber

Voltemos então meus amigos
Ao trabalho iniciado
O que disse Virgulino
Quando era entrevistado
Pois esta minha pesquisa
Cada ponto analisa
O que está registrado

Tenho percorrido os sertões
De baixo e até de riba
Passando por Pernambuco
Alagoas e Paraíba
Numa parte do Ceará
Também já passei por lá
Já contemplei o Parnaíba

Com as policias destes Estados
Tenho entrado constantemente
Em combates acirrados
Junto com a minha gente
Faz parte da nossa lida
Do nosso ”meio de vida”
Vamos seguindo em frente

A Policia de Pernambuco
Disciplinada e valente
Muito cuidado me tem dado
A da Paraíba é insolente
È covarde e trapaceira
Mas arrebento ela inteira
Se pintar na minha frente

Existe um grande contingente
Pernambucana de Nazaré
Que pratica violência
Veja como a coisa é
Parece a Policia Paraibana
Cruel vil e tão insana
No que eu digo tenha fé




Quando lhe foi perguntado
Quem eram seus “Protetores”
Os que lhe davam guaridas
Ou lhe prestavam favores
O Capitão foi dizendo
Devagar esclarecendo
Para não gerar rumores

Família Pereira do Pajeú
È quem me tem protegido
Conto com outros amigos
Quando tô sendo perseguido
Mas sempre vivo alerta
Confiando em gente certa
Pra não ser surpreendido

È que eu já fui traído
Por um outro Coronel
José Pereira de Lima
Perverso vil e cruel
A quem muito lhe servi
De certa forma o protegi
Mas ele me foi infiel

Pra sustentar o meu grupo
Peço aos ricos, e se negar
Eu não titubeio pois
À força vou lhe tomar
Aos usuários miseráveis
São uns covardes prováveis
Que negam colaborar

Dizem que você tá rico
Até onde isso é verdade?
Minha despesa é grande
E cresce barbaridade
Em armas e munições
E são muitas doações
Que faço em caridade

Eu distribuo esmolas
Aqueles necessitados
A esta gente sofrida
Eu deponho meus cuidados
Porque são merecedores
São muitos exploradores
Que maltratam estes coitados


Ao longo da sua vida
Quantas pessoas matou?
Não posso dizer ao certo
Pois muita gente tombou
Creio que mais de duzentos
Entre soldados e Sargentos
Pro outro mundo evaporou

Lembro-me que já matei
3 Oficiais de escalão
Um deles em Pernambuco
2 na Paraíba então
Mas não guardo na memória
Durante esta trajetória
Corpos que deixei no chão

As forças sempre me perseguem
Mas eu sou bem informado
Feito Veado vivo correndo
Quando me vejo ameaçado
E pra fugir dos perigos
Sempre conto com amigos
Que me mantêm avisado

Dizem que os cangaceiros
Por onde passa é tormento
Quando um deles se exalta
Qual o seu comportamento
Diga qual é a postura
O Que o Senhor não atura
Como age no momento?

Tenho cometido violências
E também depredações
Vingando os que me perseguem
Não faço retaliações
E castigo severamente
Mexer com Mulher inocente
Foge assim dos meus padrões

Consumada a vingança do seu pai
Você deixará o cangaço?
Abandonar esta vida,
È coisa que eu não faço
Tenho muitos inimigos
Vivo em meio aos perigos
Querem me pegar no laço



Não quero passar-me por covarde
E por isso vou seguindo
Se o inimigo aparecer
Eu seguirei destruindo
Com as armas me acostumei
Até agora não desejei
Ver esta luta ruindo

Existem pessoas que
Preferem o relacionamento,
Agricultores, comerciantes
Ou qualquer outro elemento?
Gosto dos telegrafistas
Das classes conservadoristas
Mas a todos fico atento

Tenho respeito pelos Padres
Sou um católico de verdade
Acato Juízes, pois estes.
Tem grande capacidade
Porque são Homens da lei
Nunca me atirarão eu sei
Não é sua especialidade

Só uma classe que detesto:
Eu não gosto de soldados
Que me perseguem, mas eu sei.
Que são apenas mandados
Sei também que é lá na luta
Que eles tem essa conduta
Mas quando estão fardados

E é justamente por isso
Que poupo alguns quando encontro
Fora da citada luta
Eu não procuro confronto
Mas se vierem lutar
Os cabras, ao meu comandar
Já se preparam de pronto

Você deve conhecer muitos
Outros cangaceiros valente
Poderia citar algum
Para registrar pra gente?
Qual no seu ponto de vista
Falará nesta entrevista
Dois ou três nomes somente?



Ao meu ver o cangaceiro
Mais valente do nordeste
Primeiro Sinhô Pereira
Um cabra brabo da peste
Luiz Padre vem depois
Destacaria estes dois
No norte sul leste e oeste

E o Antônio Silvino
O que você nos diria?
Foi medroso e se entregou
Num ato de covardia
Para mim não tem valor
Eu afirmo sim senhor
Que jamais me entregaria

Por um pequeno ferimento
Ele se rendeu então
As forças do Governador
Deixou se levar feito cão
Tive ferimentos mais grave
E nem por isso esse entrave
Fez entregar-me a prisão

Já ouviu falar em José Inácio?
Este eu conheci de perto
Era do Barro (no Ceará)
Sempre de olho aberto
Protegia os cangaceiros
Por estes sertões inteiros
Fez o que achava certo

E como anda sua saúde
Se sofre tantos tormentos?
São 4 ao todo que
Me incomoda alguns momentos
Dentre esses um na cabeça
Que é pra que eu não esqueça
Destes meus atrevimentos

Mas no grupo tem pessoas
Habilitadas pra tratar
Seja qual for o motivo
Estão ali para cuidar
Só queixo do reumatismo
Que com estranho cinismo
Vive pra me perturbar



Seu grupo é sempre este volume
Que veio pra Juazeiro?
Confesso que gostaria
Ter muito mais cangaceiro
Mas são grandes as despesas
Sustenta-los é uma proeza
Que faço com pouco dinheiro

Ainda me faltam recursos
Armamentos, materiais
Munições e manutenção
E outras coisinhas tais
Mas o grupo é variante
Eu conto neste instante
Com uns 50 ou mais

Costuma com qual frequência
Visitar este Estado?
Aqui sempre respeitei
Tenho amigos um bocado
O Padre Cicero Romão
Sacerdote com devoção
Tem minhas irmãs cuidado

Tem sido como eu diria
Pra elas um pai verdadeiro
Até então não conhecia
Este Padre tão ordeiro
E eu afirmo de verdade
Primeira vez venho á cidade
Tão Bela de Juazeiro

Sua vinda a Juazeiro
Foi pra receber a patente
Pra combater a coluna Prestes
Ou veio atender somente
O convite que foi feito
Que Padim Ciço com jeito
Lhe fizera de repente?

Tive um combate com os revoltosos
Em São Miguel e Alto da Areia
Foi um tiroteio forte
De correr sangue na veia
Recuei por desvantagem
Com 18 era bobagem
Vi a coisa ficar feia



Sendo eu um legalista
Teria que enfrentar
A tal da coluna Prestes
Com quem fomos confrontar
Já lhe disse o resultado
Deste meu fato passado
Não tenho o que lhe contar

Vim aqui pro Cariri
Porque desejo prestar
Meus serviços á Nação
Quero sim colaborar
Se houver um bom acerto
E não tiver nenhum aperto
Podemos nos combinar

As forças patrióticas de Juazeiro
Aos rebeldes combaterei
E toda minha experiência
Para eles mostrarei
Se aceitarem meu serviço
Daremos logo sumiço
Pronto pra isso estarei

O que imagina o futuro
Dentro do próprio cangaço
Eu estou me dando bem
Em tudo aquilo que faço
Mas um dia hei de parar
E esta vida abandonar
Se não vier um embaraço

Não sei se vou passar a vida
Toda nele eu brigando
Pretendo por mais 3 anos
Ao cangaço me dedicando
Tenho amigos pra visitar
Não o fiz por não achar
Ainda um tempo sobrando

Mas depois com certeza
Ainda mais adiante
Quando eu deixar o cangaço
Talvez seja comerciante
Daí então, pararei
Talvez não mais atirarei
Nos macacos da volante.



Esta é uma entrevista
Concedida Finalmente
Foi colhida pelo Médico
Lá do Crato certamente
Dr.Octacílio Macedo
E Lauro Cabral sem ter medo
Fez as fotos este somente.

A ultima pergunta então
Que pesquisei até aqui
Desta entrevista dada
Os fatos que eu colhi
Faz parte da trajetória
É um pouco da historia
Que pesquisando aprendi


Caros amigos Brasileiros
Aqui minha contribuição
Rebuscada na historia
Levado pela emoção
Os versos então descritos
Sobre o herói do sertão

Somos todos envolvidos
Informar é um bom dever
Literatura popular
Vamos então prestigiar
Aprimorar nosso saber








Nesta obra mais recente de literatura de cordel, vários tópicos foram extraídos da entrevista que Virgulino Ferreira da Silva concedeu ao conceituado médico o Sr. Octacílio Macedo quando da sua visita á Cidade de Juazeiro do Norte-CE.
Virgulino Ferreira da Silva 07 de Julho de 1897 a 28 de Julho de 1938 viveu apenas, 41 anos e 21 dias.
No dia 28 de Julho de 2011 aniversário de morte (73 anos).
Se vivo fosse, estaria completando nesta data 114 anos.


Fonte principal de pesquisa:
WWW.enciclopedianordeste.com.br

Carlos Silva é poeta cantor e compositor das coisas deste Brasil.
Paulistano de nascimento, o artista foi criado na Cidade de Nova Soure, e posteriormente em Itamira Município de Aporá.
Suas musicas estão disponibilizadas no link abaixo:
WWW.bandasdegaragem.com.br/carlossilvacantador

Dedicado a todos os historiadores e pesquisadores que fazem deste País, uma fonte de descobertas da nossa cultural popular.
Aos Professores, alunos e comunidade em geral de Aporá e Itamira, parceiros na difusão cultural da nossa região.


Contatos: 75 3448-1140
Endereço eletrônico:
carlossilvampb@yahoo.com.br
cscantador@gmail.com
www.aloartista.com
www.bandasdegaragem.com.br/carlossilvacantador
www.recantodasletras.com.br/autores/apora


No dia 28 de julho de 2011 completam-se 73 anos do ataque da volante comandada pelo Tenente João Bezerra, da Policia Militar de Alagoas, á Lampião e alguns cangaceiros do seu bando que se homiziavam na Fazenda Angico, situada no município de Poço Redondo/Sergipe e que resultou na morte do famoso cangaceiro e dez outros integrantes do seu bando, entre os quais a sua companheira Maria Bonita, Luís Pedro (considerado o seu cangaceiro mais fiel), além de Mergulhão, Elétrico, Adília, Diferente, Quinta-Feira, Cajarana, Caixa de Fósforo.
Todos os cangaceiros mortos, foram decapitados pelos integrantes da volante alagoana e, depois de suas cabeças terem sido expostas nas escadarias da Igreja Matriz de Santana do Ipanema/Alagoas, foram conduzidas para Maceió e, posteriormente, para Salvador onde foram mantidas até a década de 1970 no Instituto Médico Legal de Salvador, também conhecido como Instituto Nina Rodrigues, sendo a seguir sepultadas.

Apoio cultural


PURIÁTICO IND.QUIMICA

Salvador – Bahia.
Tel: (71) 3365-5974
Fax: (71) 3365-5974
Email:
puriatico@puriatico.com.br

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