sábado, 24 de setembro de 2011

"ENCONTROS NO ALÉM"















Colegas que já se foram
Arrastando nossa saudade
Reviveremos seus sonhos
Levando em verso a verdade
Ocultando nosso choro
Semeando sua vontade

Somos irmãos de arte
Impossível esquecer
Lembranças que essa vida
Valoriza nossa lida
A expressão do dizer

Vou narrar essa editoria
Que se passou lá no além
Foi um belo e bom encontro
Com cantorias do bem
Era reunião de poeta
Cada um com a frase certa
Com o valor que cada um tem

Comecei Imaginando
Como seria a reunião
Quem iria fazer parte
Daquela bela discussão
Pois o céu "tava"estrelado
Veja que não estou errado
Preste bastante atenção

Um sujeito "tava"sentado
Com um chapéu de couro fino
Com apracáta de couro
Punhal longo cristalino
Com olhar pouco singelo
Na mão um papo amarelo
Seu nome era Virgulino




Esse Homem fez história
Quando passou no sertão
Cada tiro que ele dava
Um "macaco"ia pro chão
Foi o preço da memória
Do herói que não viu gloria
Cabra macho Lampião

Ele ali tão pensativo
Calado não se irrita
Olhos nos olhos da amada
De repente ele grita
Eu faria tudo de novo
Quem dera rever meu povo
Com você Maria Bonita

Te aquieta lampião
Nosso tempo já passou
Curisco tá ali pensando
No rumo que a vida tomou
Hoje ao lado de Dadá
"Tamos" do lado de cá
Foi bom enquanto durou

Nesse instante entrou um padre
Chamado Ciço Romão
Milagreiro abençoado
Lá das bandas do sertão
Cumprimentou o casal
Deu um abraço fraternal
Eles lhe beijaram a mão

"Padim Ciço" foi dizendo
Com um pesar no coração
Más com sua vóz suave
Disse para Lampião
Não se apegue ao passado
Esqueça aquele lado
Olhe,chegou outro irmão



Virgulino desconfiado
Más no "Padim" tinha fé
Olhou nos olhos do cabra
Ainda sem saber quem é
Disse:Chegue adiante
E logo nesse instante
Vá dizendo quem tu é

Eu nasci numa cidade
Pequena e bela ela é
No sertão do Ceará
Me criei com garra e fé
Minha poesia Ativa
Eu me chamo patativa
Patativa do Assaré

"Padim Ciço" interveio
Fez uma colocação
Apresentou perguntando:
Vocês se conhecem ou não?
Patativa foi dizendo
Mansamente respondendo
Quem não conhece Lampião

Então meu nobre poeta
Nesse lar celestial
Cá estamos esperando
O julgamento final
Eu que fui um cangaceiro
Abalei o sertão inteiro
Más não fui assim tão mal

Maria Bonita então
Falou para Virgulino
Tá chegando outro cabra
É o capitão Silvino
Trazia outro companheiro
"Padim Ciço"falou primeiro
Esse é o mestre Vitalino



Na terra fui artesão
Do barro fiz a cultura
Da lama seca transformei
Numa bela escultura
Pois a terra tem riqueza
No sertão é mais beleza
Tudo é obra da natura

Sou chama que brota do chão
Fogo que não se apaga
Sou água de rio corrente
Por onde meu verso vaga
Olha só quem tá chegando
Ele já vem ali tocando
É compadre Luiz Gonzaga

Um fole rasgou no ar
Como anunciação
A lua ficou mais clara
Feito luar do sertão
Uma risada gostosa
Ecoou deu vida a prosa
Chegou o velho Gonzagão

O chapéu de couro brilhava
Em meio a escuridão
O jaléco a sanfona
Tava até com o jibão
Ele vinha abraçado
Com outro padre ao seu lado
Querido Frei Damião

Nisso chegou um barbudo
Balançando as madeixas
Olhou o grupo e sentou
Falando sem sentir queixas
Era o velho Raulzito
Já chegou dando o seu Grito
Dizendo:Sou Raul Seixas



É um prazer tê-lo conosco
Sente aqui e não se cale
Da sua vida na terra
Se quiser um pouco fale
Pois agora estão chegando
Escutem, já vem cantando
Gonzaguinha e João do Valle

Raul sempre falador
Porém nunca desordeiro
Falou vamos fazer festa
Sacudir o céu inteiro
Tem xaxado tem baião
Abram logo a roda então
Lá vem Jackson do Pandeiro

Vinha também Carmem Miranda
Logo tudo era festança
Orlando Silva chegava
Parecia uma criança
Altemar Dutra com jeito
Enchia de ar o peito
Resgatando a lembrança

Cazuza e Renato Russo
Entoavam uma canção
Emilinha Borba em Marcha
Lembrava o carnaval então
Ataulfo rimou na brisa
E abraçada a Maysa
Elis cantou fascinação

Antonio Conselheiro então
Com olhares bem sisudos
Olhava prá todo lado
Prestava atenção em tudo
Lembrou porém de repente
O que fizeram com sua gente
Na cidade de Canudos



Más ali não caberia
Espaço para tristeza
Pois a história era viva
Parecia a realeza
Tudo se virou em festa
Ninguém ali se detesta
É a ordem da natureza

Ali agora era paz
Na viagem derradeira
Cada um com sua historia
Ou sua sina traiçoeira
A luta valeu a pena
A lida mesmo pequena
Será lembrada a vida inteira

A roda estava formada
De poeta e cantador
Ali o que menos sabia
Era exímio professor
Xote,xaxado e baião
Polca, valsa e vanerão
Todos sem nenhum rancor

Meus bons amigos eu sei
Isso é história de poeta
Que guarda na sua lembrança
O que a mente desperta
Movido pela saudade
Impulsionado pela vontade
De fazer rima correta

Muitos que já se foram
E merecem nosso respeito
Daqueles que não falei
Creia que não é despeito
Deixaram sua mensagem
Quando fizeram a passagem
Fizeram tudo direito



Tudo passa nessa vida
Menos a recordação
Nem os versos do poeta
Passa pela vida em vão
Pois esse tem alma pura
Enriquecem a cultura
Do nosso belo torrão

Quantos deles cá fizeram
Sua forma de expressão
Liberdade no falar
Com toda dedicação
Quantos poetas passaram
E nessa vida amargaram
Tristeza e ilusão

Vou falar de outros poetas
Que nos deixaram saudade
Ana, Preto Jota, Iran
Com toda boa vontade
Traziam em seu poema
Abordando sempre o tema
Da nossa realidade

Parceiros que a tal mídia
Não quis aqui valorizar
A arte desses guerreiros
Sempre iremos relembrar
Com amor e com saudade
Com grito de liberdade
No nosso jeito de versar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário