sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"NORDESTIFICAÇÃO"

NORDESTIFICAÇÃO

Vociferei minha descontentação, feito esturro de onça parida no seio da mata, quando se vê ameaçada pelo aventureiro atirador.
Cuspi brasa, feito o papoco do papo amarelo do Capitão Virgulino quando se via encurralado pelos macacos de botas da volante perseguidora.
Mas ele, sempre com habilidade e um sorriso, reunia a cabroeira pra um xaxado improvisado, no oco de algum lugar nordestino, comemorando as baixas e encomendação pro inferno das almas que lhe perseguiam.
Mais calmo “tentando dissipar da mente esses pensamentos”, amparei-me na prece de voz suave do capuchinho Frei Damião, que abençoava até, os desabençoados Como forma de perdão.
Ouvi o canto de Marines e suas vestes de jagunçante cangaceira animando sua gente. Coisas lá do meu torrão.
Uma trêmula voz soprava aos meus ouvidos me dizendo em lamento:
Setembro passou, Outubro e Novembro, Já tamo em Dezembro meu Deus que á de nois.
Ali se ouvia o sertânico da palavra de um pouco letrado desprovido de canudagem escolar, chamado Patativa do Assaré.
Para completar a sonoridade da cantiga, os versos eram emanados por uma concertina de 120 baixos (botão preto bem juntinho, como nego impariado) debulhada pelos ágeis dedos do Homem cara de lua, filho de Dona Santana e do consertador de sanfonas o velho Januário.
Aquele Homem de voz estridente, primo do vaqueiro Raimundo Jacó, melodiava e harmonizava um hino de um povo “que segundo Euclides da Cunha” É antes de tudo um forte.
Estas palavras servem para o Beato Antônio Conselheiro, pro fugitivo da seca em 11 dias de pau de arara que desembarcava no Brás, bairro tido como acolhedor dos “chegantes”.
Tais palavras servem também para as ramificações que se esparramaram por toda megalópole cuja essência, alimenta a nordestinidade eterna para a cultura de um país.
Agora, refletindo na calmaria dessa minha “viagem poética”, ouço o som de uma gaita resfolegando o meu conforto imaginário em viver dizendo para mim e para todos, Como um bom caminhador que sou: MINHA VIDA É ANDAR POR ESTE PAÍS. Agradecendo a um povo que me inspira, me fortalece me apruma e tanto me orgulha.
Obrigado aos meus pais, pela Nordestificação que até hoje pulsa no peito deste menino e agora crescido Homem. Obrigado a cada irmão que devido ao Êxodo, nem se quer os conheço de fato, mas sei que cada um, é meu irmão de terra, lida e sina buscante por uma vida melhor.
As palavras, que “fogem” do contexto lógico da gramática é o que eu chamo de MISTURAGEM no traçado das Filologias por um simples saudosista e trovador Brasileiro que através deste texto, honra a sua genealogia nordestina.

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