terça-feira, 4 de outubro de 2011

"VERBO EM VERDADE"




(foto Kalmax)













Um dia, pensei comigo
Deixarei de ser poeta
E a frase mais correta
Que direi a um amigo
È que tive por castigo
A rima tão companheira
Subi e desci ladeira
Com um verso em meu peito
E sempre que tinha jeito
Abraçava o violão
Entoava uma canção
Dava um mote perfeito

Procurei por tanta gente
Que não quis me procurar
Nem se quer quis escutar
A minha loa plangente
Com jeito bem “agrestente”
Eu disse: sou cantador
Me escute por favor
O meu verso sertanejo
Parece ter um lampejo
Do grito de Lampião
Isso é coisa do sertão
Tudo que olho rima vejo

Mas eu cá fico calado
Vendo versos avoar
Muita gente prosear
Mas estão bem ocupado
De ouvir o meu recado
O meu modo de cantar
A rima pode ser torta
Mas pretendo consertar
E se assim ela torar
A estrada fica comprida
Mas guardo na minha lida
A vontade de “amostrar”

São cantantes os meus versos
Turvos são os meus recados
Se deixo alguns avexados
Vuando noutros universos
Como nos gestos reversos
Estendo a minha desculpa
Da alma que guarda a culpa
Do verso de um trovador
Um violeiro cantador
Das modinhas do sertão
Cantadas com o coração
Versadas com muito amor

Assim sou, nobre Brasil
Um filho deste torrão
Cuja bela profissão
È ser um tanto arredio
Mas com amor bem varonil
Debulhando a rimagem
Retratando em mensagem
Para muitos escutar
A trova que vou cantar
Em verso rima ou loa
Creia que não é a toa
Minha maneira de versar

Não nasci pra puxar saco
De fala da puta nenhum
Não sou de tal tum tum tum
Sou forte pra não ser fraco
Fundura é pouco buraco
Cara feia pra mim é fome
Carlos Silva é meu nome
Sou paulista abaianado
Canto xote e xaxado
Fui criado no agreste
Sou também cabra da peste
Sujeito bem despachado

E quem não gostar de mim
Nada eu poderei fazer
Trate então de viver
Vá plantar noutro jardim
Pois meu verso é assim
Não exprime falsidade
Sou matuto na cidade
Cantador e cordelista
Trago n’alma de artista
A prosa do cantador
Aluno e não professor
Mas de cunho realista

Sou do mangue e da favela
Do asfalto e do torrão
Piso firme nesse chão
Inventando aquarela
Pois a vida é tão bela
Fellini Assim afirmou
A real ele mostrou
No mundo da fantasia
Despejar a alegria
Esquecendo a maldade
Que o Homem por crueldade
Tanto praticou um dia

Piso forte nesse chão
Pois sei que ele é meu
Meu verso não se rendeu
Nem em troca de um pão
Já convivi com ladrão
Que queria me roubar
Cansei de acreditar
Em promessa deslavada
Hoje sigo minha estrada
Com a fé no Deus divino
Mas ainda sou menino
Seguindo minha jornada

Já usei terno e gravata
Tentando sobreviver
Sufoquei-me pra valer
No meio daquela nata
Mediocridade chata
Em busca do tal salario
Que oprime o Proletário
Impedindo-o de pensar
Muitos para comandar
Estes nossos curtos passos
Em meio aos embaraços
Resolvi me libertar



E por aqui vou ficando
Sem causar constrangimento
Não gosto de fingimento
Quero estar colaborando
E assim eu vou trovando
Com respeito e com verdade
Quem gosta de falsidade
È morto que não tem vida
È fraco podre na lida
Não diga que é poeta
Tua lingua é a seta
Da rima pobre e perdida

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